segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Por que obedecemos ordens?

Obedecemos, seguimos e damos ordens muitas vezes até sem perceber. Há leis, regras de trânsito, conselhos morais e espirituais, determinações do chefe e tantas outras situações em que prevalece mando e obediência. Numa dessas relações é fácil imaginar motivos para alguém desejar comandar – como sede de status, vantagens materiais ou satisfação da vaidade. Pode ser mais interessante, contudo, pensar no que leva alguém a obedecer sem fazer questionamentos – ou pelo menos estranhar essa conjuntura. O sociólogo alemão Max Weber deu algumas respostas a essa questão. No início do século 20 ele estudou as relações de dominação, a qual definiu como “probabilidade de encontrar obediência a determinada ordem”. O que mais lhe interessava nessas relações era o sentido dado à ação de obedecer por aqueles que se submetiam às ordens.
Podem existir motivações para a obediência com base no medo, no afeto, num costume arraigado ou no cálculo das vantagens de ser conivente com o dominador. Mas a dominação construída sobre esses alicerces pode ser instável. De acordo com Weber, as relações de mando-obediência tornam-se mais estáveis quando o sujeito que segue as determinações alheias o faz por acreditar que esta é a coisa certa a fazer. Em outras palavras, a dominação é mais estável quando o dominado acredita na legitimidade do motivo de sua obediência. Três fundamentos são identificados pelo sociólogo para a dominação ser considerada legítima por aqueles que acatam e cumprem as ordens.
Existem os casos em que a motivação é a crença na legitimidade das ordenações e dos poderes senhoriais existentes há muito tempo. Obedece-se por fidelidade, sem questionamentos, porque se acredita que o estado das coisas foi daquele jeito desde sempre. Mas as ordens não podem ser aleatórias. Seu conteúdo está “santificado” pela tradição, embora haja um limite nas ações de quem manda, entre as partes determinadas pela tradição, pelo seu arbítrio e graça, podendo esta última ser influenciada por simpatias pessoais. Exemplo desse tipo de relação, chamada de dominação tradicional, é a autoridade dos pais de família nas relações patriarcais.

Outra razão para  considerar as ordens de uma pessoa como legítimas é a devoção afetiva a ela ou a crença em seus dons (como faculdades mágicas, abertura para revelações místicas, demonstrações de heroísmo, poder intelectual ou alta capacidade de convencimento pelo discurso). Encontramos esse tipo de relação entre grandes oradores, guerreiros ou líderes religiosos e seus séquitos. Mas a dominação embasada no carisma é tão extracotidiana que dificilmente se mantém sozinha por muito tempo.
Mais estável é a chamada dominação legal. Nela, uma pessoa não é obedecida por uma qualidade sua, mas pelo cargo que ocupa. Na verdade, o que realmente é obedecido é uma regra estatuída. A ideia básica, nesse tipo de relação, é que qualquer direito pode ser criado ou modificado mediante um estatuto correto. Correspondem a esse tipo de dominação a estrutura do Estado, as empresas capitalistas e toda associação moderna que dispõe de um numeroso e hierarquizado quadro de funcionários (os burocratas). Mas nenhum desses tipos de dominação existe de forma isolada dos demais. Hitler, por exemplo, era aprovado por boa parte dos alemães por causa de seu discurso carismático, mas comandou uma burocracia que a muitos parecia legítima por ter sido criada legalmente e de modo racional; mas também era obedecido porque havia mecanismos de violência para reprimir quem o contrariasse.

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