terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Rotina para organizar a vida

Pense sobre as experiências mais importantes que viveu. Muitos se recordam do dia do casamento, do nascimento dos filhos, de uma viagem especial ou da primeira vez que saltou de paraquedas. É pouco provável que alguém se lembre da última vez que escovou os dentes. No entanto, estudos sugerem que as trivialidades do dia a dia podem contribuir bastante com a sensação de ter um propósito para si mesmo. Por mais que esse conceito soe como algo sentimental, perceber que a vida tem algum sentido é fundamental para nosso bem-estar. Pesquisas associam esse sentimento com flexibilidade, saúde mental, sucesso no trabalho e longevidade. A psicologia fala de três aspectos da experiência: significado, propósito e coerência. Em outras palavras, a vida ganha relevância quando nos sentimos importantes e enxergamos um objetivo, pois temos a sensação de pertencimento, de fazer parte de algo que nos transcende. Os dois primeiros elementos têm sido amplamente estudados. No entanto, experimentos sobre a coerência começaram somente em 2013, quando os psicólogos Jason Trent, Samantha Heintzelman e Laura King, da Universidade de Missouri, relataram na Psychological Science que até mesmo um padrão visual simples pode favorecer a sensação de um significado maior.


Segundo o artigo, 77 voluntários observaram 16 fotografias de árvores ordenadas de forma aleatória ou conforme as estações do ano. Aqueles que visualizaram as imagens com o padrão sazonal relataram encontrar mais sentido na vida do que os outros, o que foi medido de acordo com as respostas que haviam preenchido num questionário logo após a tarefa visual. Outros 229 participantes visualizaram três grupos de palavras por alguns segundos; algumas eram semanticamente relacionadas, outras não. Os que trabalharam com conjuntos de termos coerentes e viram alguma ligação entre os elementos disseram encontrar maior significado na vida do que os que observaram palavras aleatórias.
Samantha Heintzelman e Laura King escreveram no ano passado, num artigo na American Psychologist, que a tendência humana é encontrar um significado na vida. “Então, combinando essas duas linhas de pensamento, de que procurar sentido é algo comum e de que isso pode ser extraído da coerência, começamos a indagar quais seriam os aspectos do cotidiano com essa característica”, diz Samantha. Uma resposta pode ser a rotina. Em um trabalho apresentado em fevereiro na reunião anual da Society for Personality and Social Psychology, pesquisadores solicitaram aos voluntários que resolvessem cinco labirintos. Para alguns, as soluções eram semelhantes, o que tendia a induzir ao hábito. Em seguida, os participantes responderam a perguntas sobre a vida. Os que haviam se familiarizado pouco antes com a resolução da tarefa claramente expressaram maior sensação de conforto. As cientistas relataram também na conferência que aqueles que disseram fazer “praticamente a mesma coisa todos os dias”, de acordo com um levantamento sobre o cotidiano deles, acreditavam que a vida tinha mais sentido.
A noção de que encontramos um maior significado em hábitos e trivialidades é um pouco surpreendente, segundo as cientistas. “Essa não é a maneira como historicamente temos pensado sobre o significado da vida, o que nos deixa um pouco perplexos”, comenta Heintzelman. Ela argumenta que, muito além de árvores, grupos de palavras e labirintos complicados, podemos encontrar sentido ao manter a casa arrumada, uma programação diária ou jantares semanais com os amigos. É importante também, de tempos em tempos, questionar nossas escolhas (como trabalho e relacionamentos) e reafirmar nossos compromissos – ou revê-los. A coerência de uma vida ordenada também ajuda a estabelecer quais são nossos objetivos, propósitos e os significados que queremos dar à nossa vida.
Leia o texto completo, “Seu cérebro pode ajudar você a ter um ano novo mais feliz”, capa da edição de janeiro de Mente e Cérebro, disponível na Loja Segmento:http://bit.ly/1UVmo8j

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